Em semana de Cimeira de Conselho Europeu, a Europa da União dá sinais de desunião e de desnorte, falta de rumo e liderança como até ao momento nunca havia dado. Se Merkel se apressou a pôr água na fervura das expectativas anunciando que nada de especial se deverá esperar do encontro do chefes de Estado e de Governo, Sarkozy demorou menos de 24 horas a retorquir que a crise europeia e das dívidas soberanas estará resolvida dentro de 10 dias. O directório europeu, esse eixo franco-alemão ou directório de facto que, sem mandato nem legitimidade, teima em determinar o rumo e os destinos da Europa da União, tornando os demais chefes de Estado e de governo, que integram o Conselho Europeu, bem como as próprias instituições comunitárias, numa espécie de reféns cativos do decidido em Paris e em Berlim. começou a evidenciar as suas mais profundas divergências e divisões em torno de alguns dos aspectos fundamentais que estarão em cima da mesa da Cimeira europeia. Essas divisões e divergências atingiram hoje o seu ponto mais relevante com a sucessão de notícias cruzadas e contraditórias que chegaram ao ponto de questionar a realização da própria Cimeira; de levar a chanceler a anular a comunicação agendada para amanhã no Bundestag sobre assuntos europeus; ou de detalhar as diferentes visões sobre o que deve ser o futuro do FEEF. E tudo culminou na decisão bizarra e completamente original tomada pelo directório desunido de convocar para a próxima semana nova cimeira dos chefes de Estado e de governo da zona euro quando ainda não se realizou o encontro do próximo domingo. Se se pretendesse esvaziar em absoluto a importância desta próxima Cimeira, seria difícil congeminar ou conceber estratégia mais perfeita do que convocar a Cimeira seguinte antes da realização da Cimeira que se segue. Daí que possamos afirmar, sem receio de grande contradita, que este é um dos momentos mais críticos da história do projecto europeu que já leva sessenta anos de existência. Não é só pela existência do directório sem mandato que se dá ao luxo e se permite decidir em nome da própria União, tornando o Conselho Europeu – órgão supremo de condução política da União – refém das suas próprias decisões, pouca margem tendo que não para ratificar o que foi decidido em incontáveis encontros bilaterais realizados em Paris ou em Berlim. É, também, para além disso, o constatar da divergência e do desencontro dentro desse directório que deixa a União e as suas instituições à beira dum ataque de nervos e os mercados internacionais a percepcionarem as graves clivagens que emergem do projecto europeu. Foram estas reflexões que, por gentileza da TSF, foram hoje partilhadas e que podem ser escutadas de forma sintética aqui ( http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=2070845 )