Passos Coelho vai receber, em audiência, António José Seguro para discutirem a forma como Portugal vai sair do Programa de Assistência Financeira a que está submetido. Poderia ser uma boa notícia. Poderia ser porque, com toda a probabilidade, não o vai ser. Nem o tom do convite nem o tom da aceitação do mesmo deixam transparecer qualquer vontade sincera de ser obtido um acordo entre o governo e o principal partido da oposição em matéria tão sensível. Passos convida porque sim; Seguro aceita porque não pode negar. Ficaria tão mal a um não convidar quanto ao outro não aceitar. Logo – não passaremos do simples plano do mais puro formalismo institucional. Na véspera de ser recebido por Merkel, Passos quer levar no bolso a fotografia do encontro com Seguro – não para inglês ver, mas para alemã contemplar. Na sua caminhada para vencer as eleições, Seguro não se pode dar ao luxo de recusar uma postura institucional, reunindo com o chefe do governo e aparecendo a seu lado na foto e imagens da praxe. Faz parte do preço que tem a pagar na sua estrada de Damasco que pretende que o conduza a São Bento. De fora disto tudo, vai continuar o país. Ao lado destes jogos políticos e destes encontros feitos de aparência e ausência de conteúdo. No máximo ambos vão constatar que discordam e acordar no respetivo desacordo. Há muitos anos, pela década de sessenta do século passado, uma crise por que as Comunidades Europeias passaram, a crise da “cadeira vazia” que se julgou das mais graves até ter acontecido a atual, terminou com um pseudo-acordo – os célebres “Acordos do Luxemburgo” – que ficaram conhecidos como o “acordo para discordar”. Passos e Seguro seguramente vão dar passos no sentido de afirmarem o seu desacordo. Nisso irão estar de acordo.